Firmada com o movimento +Mulheres Lideranças do Audiovisual Brasileiro e a ONU Mulheres [entidade das Nações Unidas para a igualdade de gênero e empoderamento das mulheres], os representantes das produtoras O2 Filmes, Conspiração, Gullane e Pródigo se comprometeram a dar visibilidade à pauta das mulheres no setor audiovisual. Este compromisso inclui um diagnóstico sobre gênero e raça em áreas-chave e em suas produções, desde roteiro, direção, produção, até cargos técnicos. Ele também prevê que, após esse diagnóstico, sejam estabelecidas políticas para ampliar o número de mulheres em cargos de liderança, com especial atenção para os cargos de direção e roteiro das obras.
Hoje a carta foi assinada por apenas quatro produtoras, mas o objetivo é que isso se amplie para outros atores do mercado audiovisual. “A ideia é que a gente traga outras produtoras, as plataformas de streaming, as salas de cinema e TV para que eles também se unam a esse movimento”, acrescentou Daniele.
O compromisso foi assinado de forma voluntária pelas produtoras. “Estamos nos voluntariando a ter um compromisso com a ONU Mulheres e com a nossa indústria audiovisual para trabalhar na equidade profissional entre homens e mulheres, em todos os sentidos, tanto na contratação, na representação, na paridade de salário e todo tipo de representação”, disse Renata Brandão, CEO e produtora-executiva da Conspiração Filmes. “Esse compromisso vem não só para alinhar o compromisso com a ONU mas também para trazer e inspirar outros produtores da indústria toda”, acrescentou ela.
“Não é somente [um compromisso] para essas quatro produtoras. Esse é um convite que a gente está fazendo para a indústria como um todo e muitas outras produtoras, tenho certeza, vão aderir a esse pacto. Hoje, a Pródigo, por exemplo, já tem o quadro majoritariamente feminino dentro do quadro das pessoas que trabalham no dia a dia. Mas ainda acho que nas produções dá para a gente aumentar em certas áreas - e acho que esse é o nosso objetivo”, disse Beto Gauss, sócio-diretor e CEO da Pródigo Filmes.
Segundo ele, a Pródigo vem tentando aumentar não só a participação de mulheres, mas também de pessoas negras na produtora. “Queremos cada vez mais ter uma equidade de raça, que acho que é uma das nossas maiores buscas hoje: ter cada vez mais mulheres negras com a gente, nas nossas produções e no comando das nossas empresas”, disse ele, em entrevista à Agência Brasil.
Dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) apontam que as mulheres apresentam baixa representatividade na liderança das obras, com apenas 20% e 25% delas ocupando cargos de direção e roteiro, respectivamente. Os dados da agência também apontam que a presença das mulheres negras e indígenas nesses cargos cai para zero nos longas-metragens. “Na verdade, a gente não tem muitos dados para entender como essa configuração se dá no Brasil. A gente agora vai se debruçar para entender como o setor está funcionando”, falou a representante da ONU.
Para ela, ampliar a participação das mulheres no setor audiovisual é importante não só para oferecer igualdade de oportunidades, mas também para romper com estereótipos. “Mulheres negras, mulheres indígenas, mulheres com deficiência, mulheres acima dos sessenta anos, mulheres trans e lésbicas. A gente fala disso porque diversidade é o que vai romper muito com os estereótipos que a gente enfrenta na realidade, que são essas barreiras nocivas que nos fazem não acessar oportunidades, não acessar alguns espaços. De fato a gente está pensando nisso porque o audiovisual tem um poder de convocação, de tocar quem assiste. Ele contribui pra formar o nosso imaginário, para revalidar valores também como sociedade. Por isso é tão estratégico para a gente estar no setor audiovisual”, disse Daniele.
Para Andrea Barata Ribeiro, sócia da O2 Filmes, a participação de mulheres no setor vem crescendo nos últimos anos. Mas é preciso fazer mais. “Sou de uma geração anterior, onde esse número era bem desigual [entre homens e mulheres]. A gente vinha num mundo majoritariamente masculino e isso era até refletido na publicidade, no jeito que as mulheres eram retratadas. Acho que isso vem mudando ao longo dos anos e todo esse movimento que nós fazemos é para ajudar e contribuir para essa mudança e para a rapidez dessa mudança”, falou ela. “É importante que essas pessoas possam se enxergar e possam ter voz para a gente evoluir também novas histórias e novos pontos de vista”, disse ela.