“Por mais que a gente passe por uma situação difícil, tenha um acidente ou aconteça algo, nunca desanime. Temos que seguir em frente e manter a cabeça erguida. Há males que vêm para o bem. Vivo uma vida muito melhor do que vivia antes com minhas duas pernas”.
Foi com essa declaração inspiradora que o triatleta Leonardo Mendonça, de 25 anos, encerrou a entrevista.
Aos 19 anos, quando trabalhava em uma fábrica de lajota na sua cidade natal, Laranja da Terra (na mesorregião central do ES, a 160km de Vitória), ele caiu dentro de um triturador de terra (maromba) e teve as duas pernas esmagadas acima do joelho.
Perdendo muito sangue, foi levado às pressas para um hospital em Afonso Cláudio e depois foi transferido para o São Lucas, em Vitória. Foram 73 dias internado, sendo um mês no CTI. Nesse período, a equipe médica tentou recuperar suas pernas, mas, diante da gravidade do acidente, precisou amputá-las.
“Sofri o acidente em 24 de novembro de 2014. Depois de um mês, amputaram primeiro a perna direita e depois a esquerda. Tive alta em 5 de fevereiro de 2015”, lembrou Leonardo.
Seis meses após a alta, ele colocou as próteses, conquistadas a partir de ajuda de familiares e amigos e também de rifas. “Foi tranquilo e me adaptei com um mês. Andava muito bem”.
Pontapé no esporte
Foi aí que o esporte entrou de vez em sua vida. Até antes do acidente, gostava de jogar peladas em sua cidade e confessa que vivia uma vida sedentária. Impaciente de ficar parado em casa, pediu autorização para treinar jovens atletas de futebol. Fazia um trabalho voluntário e chamava os meninos para jogar. Até que foi convidado para ser o treinador do time em uma competição estudantil.
Em 2016, enquanto assistia às Paralimpíadas do Rio, em 2016, ele teve vontade de fazer algo pessoal. “Achei muito louco e ficava entusiasmado como os atletas conseguiam fazer aqueles esportes. Fui fazer uma revisão da prótese em Vitória e aproveitei para fazer um teste de natação no Clube Álvares Cabral, que oferecia esporte paralímpico. Eles gostaram e viram que eu tinha potencial. Na época, tinha 21 anos, uma idade boa para começar. Antes no teste, eu só nadava para sobreviver (risos). Comecei a nadar duas vezes por semana e voltava para a roça. Até que em janeiro de 2017 fui morar em Vitória”, recordou.
Triathlon
Sua força de vontade fez com que as portas se abrissem para ele. Teve reconhecimento do público e da mídia e também apoio de algumas empresas. Conseguiu uma lâmina de corrida de fibra de carbono, que custava R$ 55 mil, por R$ 17 mil. “A empresa tirou os custos e me deu esse desconto. Aí fiz um empréstimo no banco. Uso essa prótese para correr”.
Uma loja especializada em bicicleta ofereceu um desconto de 30% em uma bike própria para triathlon. “A bike custava R$ 5 mil. Aí consegui comprar por R$ 3,5 mil. Antes disso, estava usando uma bike emprestada de uma amiga para pedalar”.
Passou a receber a Bolsa Atleta da Secretaria de Esportes e Lazer do Espírito Santo (Sesport) e, há dois anos seguidos, é 3º lugar no ranking nacional em sua categoria (PTS3). A ajuda permitiu que competisse até fora do Estado, como em São Paulo, Brasília e Florianópolis. Era o único triatleta da categoria no Estado, até que motivou o amigo Marcos Vinícius a também praticar o triathlon.
Este ano, por conta da pandemia do coronavírus, só teve a oportunidade de participar de uma competição: o Triathlon do Corpo de Bombeiros, neste mês de dezembro, disputando a prova “Sprint” (750 metros de natação, 20 km de ciclismo e 5 km de corrida).
Leonardo contou que adaptou seus treinos à pandemia. “Acordava cedo para pedalar e correr. O esporte gera qualidade de vida e também faz parte de minha rotina”.
Trabalho
Atualmente, Leonardo trabalha como telefonista auxiliar de regulação médica no Samu 192. De agosto para setembro, antes de ajudar a fazer o inquérito sorológico da Covid-19, passou por um teste rápido, o qual apontou que ele já teve o vírus. No entanto, ficou assintomático. Sobre o trabalho, ele fala de uma feliz coincidência: “Fui socorrido pelo Samu e hoje trabalho no Samu”.
Corrida
Parabéns, Leonardo! Sua história é um grande exemplo de superação, força de vontade e amor pelo esporte. Que sua trajetória sirva de motivação para muitas outras pessoas e sua vida inspire outras vidas a persistir e seguir sempre em frente!
Que venham muitas outras histórias para contar neste espaço em 2021. Um feliz e esperançoso novo ano para todos nós!
“Tudo posso naquele que me fortalece”
Fonte: Folha Vitória