Em razão dessa tragédia, a MapBiomas reuniu dados específicos do bairro onde ocorreram as fatalidades para verificar a evolução de áreas urbanizadas em Manaus. "Especificamente na Rua Pingo D’agua, no Bairro Jorge Teixeira em Manaus, onde ocorreu a morte de oito pessoas devido a um deslizamento de terra, não havia registro de área de risco cadastrada. No entanto, a área encontra-se dentro de um assentamento precário conhecido e delimitado pelo IBGE", aponta o estudo.
Ainda que a maior área de risco ocupada esteja em Manaus, proporcionalmente outros municípios do Amazonas aumentaram este tipo de ocupação urbana em uma taxa muito maior do que a capital. No total, 50 dos 63 municípios do estado possuem alguma ocupação em áreas de risco.
"A Amazônia lidera o percentual de crescimento das ocupações informais do território brasileiro: 29,3% do crescimento urbano nesse bioma foi em áreas informais. A Região Norte possui 13 das 20 cidades com maior proporção de crescimento, com Belém entre as cinco primeiras da lista", conclui o MapBiomas.
A evolução da área urbanizada sobre assentamentos precários e áreas de risco não é uma exclusividade da Região Norte. Segundo o MapBiomas, o crescimento das favelas tem um comportamento parecido com o das áreas urbanizadas, mas, na década de 1990, as áreas informais aceleraram o avanço.
"A expansão da urbanização tem impactos no consumo dos recursos naturais, na qualidade de vida e, de uma maneira geral, na sustentabilidade urbana, mas, quando falamos das favelas, além disso, há uma chance muito grande do aumento de ocupação de áreas de risco por populações mais vulneráveis”, explica Julio Cesar Predrassoli, um dos coordenadores do mapeamento de Áreas Urbanizadas do MapBiomas.
O estudo mostra que, percentualmente, o Cerrado lidera o ranking dos biomas com o maior aumento das áreas urbanizadas em risco com 382%, seguido da Caatinga com 310%, Amazônia com 303%, Mata Atlântica com 297%, Pampa com 193% e por último o Pantanal com 187%.
O levantamento indica que a maior expansão das áreas urbanizadas ocorreu sobre áreas de uso agropecuário. Entre 1985 e 2021, os 2,5 milhões de hectares que foram urbanizados eram 67,8% de uso agropecuário: 30,7% eram áreas de pastagens, 30,5% mosaicos de uso e de agricultura eram 6,4%.
“Apesar de a agropecuária ter quase 70% de crescimento nas áreas urbanas, é o avanço sobre a vegetação nativa que nos chama atenção. Proporcionalmente, alguns estados perderam mais da metade da sua cobertura natural para as áreas urbanizadas, afetando os ecossistemas naturais em que se inserem as cidades e contribuindo para uma resposta menos eficiente aos desafios climáticos”, aponta Mayumi Hirye, coordenadora do mapeamento de Áreas Urbanizadas do MapBiomas.
Por meio de nota, a prefeitura de Manaus informou que já identificou mais de mil pontos sensíveis na cidade, sendo que 62 deles são classificados como áreas com alto risco de impacto. "Nos últimos dois anos, a prefeitura solucionou os problemas de grandes erosões em 17 localidades. As áreas foram recuperadas com serviços de drenagem e aterro, para evitar, assim, novas erosões e alagamentos, beneficiando centenas de famílias. Ações emergenciais de contenção continuam em andamento nos bairros Jorge Teixeira e Monte das Oliveiras, onde houve desbarrancamentos durante a forte chuva do último domingo."
A prefeitura ressaltou ainda que grande parte das ocupações nestas áreas foram realizadas de forma irregular, com construções que passam sobre as redes de esgoto e drenagem, o que corrobora diretamente para as erosões. "O descarte irregular de lixo também é um outro problema, que obstrui a tubulação e provoca erosões. A prefeitura reforça o pedido de apoio à população, para que não jogue lixo nas ruas e igarapés e segue trabalhando em serviços preventivos e emergenciais em todas as zonas da cidade", finaliza a nota.