Naquele período, poucos profissionais e amadores tinham câmeras fotográficas. Mesmo assim, a curadoria da mostra, feita por Heloisa Espada com assistência de Beatriz Matuck, conseguiu encontrar um vasto material produzido em capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e Belém. As fotos, muitas delas tiradas nas ruas, apresentam não só imagens dessas capitais se modernizando, mas são também registros da expansão da fotografia e do cinema, duas expressões artísticas que foram deixadas de lado na Semana de Arte Moderna de 1922.
“A Semana de 22 não foi suficiente para pensar a arte brasileira moderna. Ela foi um evento importantíssimo, mas que não falou de tudo. Deixou muita coisa de fora, inclusive a fotografia e o cinema”, disse Heloisa Espada. “Os vanguardistas ainda tinham muito preconceito em relação à fotografia na década de 20. A fotografia era vista como um registro mecânico e científico, não como uma possibilidade de se refletir sobre o mundo”, acrescentou.
A ideia da exposição é buscar um contraponto entre as imagens oficiais das reformas urbanas, associadas à belle époque e à modernização da República, e o que se tentou esconder, destruir, apagar ou deixar de lado sobre esse período. “A ideia foi trazer coisas pouco conhecidas, misturando fotografia e cinema e colocar também coisas conhecidas, lado a lado, para a gente poder pensar sobre esse período de maneira mais ampla”, afirmou Heloísa.
“Quando se fala em moderno, a primeira coisa que vem à cabeça é algo que é atual, que é desenvolvido, que representa o progresso. Mas o moderno também pressupõe a destruição do passado. Moderno pelo Avesso é um pouco a ideia de se pensar, por meio da fotografia e um pouco do cinema, o que significa essa modernidade no Brasil, que foi um processo ambíguo e contraditório. Ao mesmo tempo em que [as fotos] mostram sofisticação técnica e tecnológica, elas mostram pessoas descalças nas ruas, uma vida muito precária e uma população que não foi incorporada a essa sociedade moderna”, ressaltou a curadora.
A seleção para a mostra inclui revistas ilustradas, projeções em lanterna mágica, estereoscópios e fotografias em diferentes formatos, como cartões-postais. Serão exibidos também filmes silenciosos. “A maior parte da fotografia nesse período era oficiosa. O Poder Público no Brasil imediatamente notou o poder de persuasão na fotografia e no cinema. No caso do cinema brasileiro, a maior parte da produção da época que sobreviveu é de filmes encomendados pelo Poder Público estatal, como os eventos sociais, que eram passados no cinema antes ou depois dos filmes de ficção. Essa era uma forma de demonstração de poder”, contou a curadora.
Os materiais exibidos provêm do acervo do IMS e de mais 28 coleções, entre privadas e institucionais, como da Fundação Joaquim Nabuco, Biblioteca Nacional, Museu Paraense Emílio Goeldi e Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo.
O conjunto inclui desde imagens produzidas por fotógrafos já reconhecidos, como Vincenzo Pastore, Alberto de Sampaio e Augusto Malta, até nomes menos conhecidos, como Francisco Rebello, que registrou a vida nas ruas e o Carnaval do Recife nos anos 1920; e Olindo Belém, autor de uma vista panorâmica de 527 centímetros de largura de Belo Horizonte, feita em 1908.
A seleção também apresenta produções cinematográficas, como os filmes silenciosos Lábios sem beijos (1929) e Limite (1931), que trazem closes e enquadramentos distorcidos, típicos das vanguardas europeias, realizados por Edgar Brasil, diretor de fotografia de ambos.
“Espero que a mostra seja uma maneira de refletirmos sobre essas estruturas, o que nos faz, aqui no Brasil, estarmos presos ao passado e nunca sermos esse país do futuro que se prometeu e nunca chega”, disse a curadora.
Como parte da programação paralela, a exposição contará ainda com uma série de atividades, como um curso sobre lanternas mágicas. A programação também incluirá uma sessão do filme Tormenta, com trilha sonora ao vivo. Mais informações podem ser obtidas no site do IMS .