Uma loja de hot dogs distribuiu cachorro quente de graça para todos que passam dias e noites no local.
A improvisada sede da polícia e da imprensa no distrito de Girassol, que se tornou a principal base e ponto de partida das buscas em torno de Lázaro Barbosa, vive um cotidiano amargo.
Rotina
Ocupando a escola municipal da pequena cidade, que integra o município de Cocalzinho de Goiás, a força policial convive com dezenas de repórteres, que nunca abandonam o posto do lado de fora do colégio.
Dali, saem as viaturas, os grupos policiais e cães farejadores em busca de Lázaro, que responde por diversos crimes, entre eles, o recente assassinato de quatro pessoas em Ceilândia, no Distrito Federal.
É dali também que saem as principais reportagens a que temos assistido nos principais jornais e emissoras do país.
Solidariedade
No decorrer dos dias, o ambiente da escola (dentro ou fora dos muros) ganha contornos de cansaço, exaustão e esgotamento. Afinal, são centenas de policiais retornando após horas de empreitadas nas matas, assim como jornalistas e operadores de câmera que, muitas vezes, viram dias e noites à espera de notícias.
Nesse cenário de insalubridade emocional, a última segunda-feira (21/06) ganhou instantes de renovação e esperança a partir da solidariedade de empresários que resolveram distribuir comida e bebidas, de graça, para agentes da polícia e profissionais da imprensa, de forma a demonstrar apoio ao trabalho realizado.
O gesto alimentou, literal e figurativamente, muita gente por ali, inclusive eu (@vaicarmela), provocando bons sorrisos e uma dose de emoção.
“Conversei com meus sócios e sentimos que tínhamos a responsabilidade de abençoar cada um de vocês com essa iniciativa”, comentou Cassilandro Colares, 45 anos, que cuida de 11 lojas de cachorro-quente espalhadas pelo Distrito Federal. Ele não teve dúvida: abasteceu um dos food trucks e partiu para Girassol. Ao longo da noite, todos os 200 sanduíches disponibilizados foram entregues aos policiais, repórteres, câmeras, moradores e a qualquer um que passasse por ali e estendesse as mãos.
Antes da entrega dos hot-dogs, uma hamburgueria já havia passado pelo lugar com uma atitude similar. “Um cuidado muito bacana, em um momento difícil, justamente em prol de uma galera guerreira”, afirmou o jornalista Carlos Alves, enquanto terminava o lanche.
Quem também aprovou o carinho foram Israel e Luciele de Brito, moradores do setor de chácaras de Ceilândia e vizinhos da família dizimada.
“Eram pessoas do bem, muito simpáticas. Ficou agora aquela obrigação de acompanharmos o desfecho”, disse Israel, que passou a frequentar Girassol na companhia da esposa na expectativa da captura do criminoso.
“Eu tenho vindo sempre e foi emocionante esbarrar com essa atitude dos sanduíches de graça. Renova nossa fé”.
Pioneiros
Apesar do burburinho em torno dos empresários, vale lembrar que não foram eles os pioneiros no gesto.
Ainda na primeira semana de buscas, moradores da própria cidade apareceram com café, doces, pão de queijo e bolo para os policiais e jornalistas visitantes, em uma forma de agradecer e motivar os profissionais a não perderam a força no cerco a Lázaro, que atormenta o pacato distrito.
Tudo que os habitantes buscam é o retorno à calma de outrora. E não faltará café, ou cachorro-quente, para garantir que Girassol volte a florescer.