16/01/2020 às 10h30min - Atualizada em 16/01/2020 às 10h30min

Cerveja puro malte é, na verdade, puro marketing. Entenda

A qualidade da cerveja não está diretamente ligada à presença do tão famoso malte de cevada na receita

Da Redação
"Eu só bebo cerveja puro malte!", disse aquele entusiasta de cerveja. Você já deve ter ouvido essa frase por aí como sinônimo de qualidade da nossa bebida favorita. Mas, trago notícias: o termo "puro malte", é, na verdade, puro marketing.

Para uma cerveja ser denominada puro malte para as leis brasileiras, de acordo com o decreto nº 6.871 de 2009, ela deve ter, na parte dos grãos de sua composição, 100% de malte de cevada como fonte de açúcares. Ou seja: não deve conter nenhum outro cereal em sua fórmula.

Por exemplo: uma Weissbier que contenha malte de cevada e malte de trigo na receita não é considerada puro malte pelas nossas leis locais. O mesmo vale para cervejas com malte de centeio, malte de aveia e qualquer outro grão maltado.

No entanto, a qualidade da cerveja não é consequência da presença de malte de cevada ou de qualquer outro ingrediente isolado. Em muitos estilos de cervejas das escolas belga, alemã e inglesa, por exemplo, o uso de cereais não maltados é imprescindível para trazer características determinantes de um estilo, bem como sabores, sensações e complexidade.

Uma boa Witbier, estilo que citei na coluna anterior, leva em sua composição flocos de trigo ou malte do mesmo cereal. Para dar mais corpo e suavidade a uma cerveja, é comum também adicionar aveia, ingrediente super comum nas tradicionais Stouts inglesas.

O que acontece por aqui é que a grande indústria cervejeira do Brasil usa cereais não maltados (ou xarope de maltose extraído desses grãos) como substituição de parte do malte de cevada em suas receitas. Com isso, cria cervejas mais leves, aumenta a produção e reduz custos, já que a produção de malte de cevada no país não supre o mercado interno.

A utilização desses grãos da maneira como é feita pela indústria de massa compromete o resultado final das cervejas, e isso acabou tornando mais fácil a popularização do enfadonho termo "puro malte".

Outro agravante que compromete a qualidade das cervejas comerciais (puro malte ou não!) é a aceleração de processos como a fermentação e a maturação por meio de compostos químicos. Não é difícil ver grandes fabricantes produzindo milhões de litros de cerveja em uma semana ou menos.

Uma cerveja de excelência não é, necessariamente, puro malte. E uma cerveja puro malte pode ter um (ou muitos) aditivos químicos. Para muitas cervejas, principalmente as produzidas em grande escala, os aditivos que ajudam na conservação (aqui não falo dos aceleradores, hein!) são necessários, visto que a bebida é sensível e viaja o mundo inteiro.

Portanto, antes de bradar que uma cerveja para ser boa tem que ser puro malte, leia seu rótulo e procure saber o que você está bebendo. Lembre-se: a cerveja local tende a ser natural. Os aditivos trazem beleza, nuances, sabores e experiências à bebida. Pense nisso e dê prioridade ao que é produzido nos arredores - com qualidade, é claro. Então, um brinde ao #bebalocal e à criatividade cervejeira!

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