Ao discursar no Parlatório do Palácio do Planalto, diante do público que lotava a Praça dos Três Poderes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pregou a união nacional e defendeu a redução da desigualdade social no Brasil.
"Nesses últimos anos, vivemos, sem dúvida, um dos piores períodos da nossa história. Uma era de sombras, de incertezas e de muito sofrimento. Mas esse pesadelo chegou ao fim pelo voto soberano, na eleição mais importante desde a redemocratização do País. Uma eleição que demonstrou o compromisso do povo brasileiro com a democracia e suas instituições. Essa extraordinária vitória da democracia nos obriga a olhar para a frente e a esquecer nossas diferenças, que são muito menores que aquilo que nos une para sempre: o amor pelo Brasil e a fé inquebrantável em nosso povo. Agora, é hora de reacendermos a chama da esperança, da solidariedade e do amor ao próximo", disse o presidente.
Faixa presidencial
O discurso foi feito depois que Lula subiu a rampa com oito representantes da população, que repassaram a ele a faixa presidencial, entre eles o cacique Raoni. Tradicionalmente, a faixa deveria ser repassada pelo antecessor, mas Jair Bolsonaro viajou para os Estados Unidos no dia 30 de dezembro.
A faixa foi repassada de mão em mão até que a catadora Aline Sousa a colocou em Lula. Também subiu a rampa a cadela Resistência, que acompanhou a prisão do presidente em Curitiba, na vigília que ficava ao lado da Polícia Federal e mais tarde foi adotada pelo presidente.
Em seu discurso, Lula agradeceu os que vieram de longe para a festa da posse, mas disse que vai governar para todos: “Quero me dirigir também aos que optaram por outros candidatos. Vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras e não apenas para quem votou em mim. A ninguém interessa um país em permanente pé de guerra ou uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras”.
Para Lula, é preciso que haja união de todos para enfrentar o principal problema brasileiro: a desigualdade. E lembrou que 5% dos brasileiros mais ricos têm a mesma renda dos outros 95%. E se emocionou ao falar das pessoas que ficam pedindo dinheiro nos semáforos: “E não adianta subir o vidro do automóvel de luxo para não ver nossos irmãos que se amontoam debaixo dos viadutos, carentes de tudo. A realidade salta aos olhos em cada esquina.”
O presidente explicou que a desigualdade é também de raça e gênero e citou a criação dos ministérios da igualdade racial, da mulher e dos povos indígenas.
Lula classificou o governo Bolsonaro de “governo da destruição nacional” e citou vários problemas encontrados pela equipe de transição. Neste momento, a população interrompeu o presidente e gritou várias vezes a expressão: “Sem anistia”.
Por fim, Lula pediu apoio aos populares para os próximos passos do governo: “Que a alegria de hoje seja a matéria-prima da luta de amanhã e de todos os dias que virão. Que a esperança de hoje fermente o pão que será repartido entre todos. E que estejamos sempre prontos a reagir em paz e em ordem a quaisquer ataques extremistas que queiram sabotar e destruir nossa democracia”
Para ouvir o presidente Lula na Praça dos Três Poderes, as pessoas tiveram que chegar bem cedo por causa do limite de espaço e o sol, que estava sumido da capital há vários dias, apareceu com força.