05/04/2023 às 16h05min - Atualizada em 06/04/2023 às 00h01min

Deputada pede desenvolvimento econômico de terras indígenas em sessão solene

“Queremos manter nossas tradições, nossa cultura, mas queremos ter acesso a tecnologias modernas e a renda”, disse

Câmara
https://www.camara.leg.br/noticias/951116-deputada-pede-desenvolvimento-economico-de-terras-indigenas-em-sessao-solene/
Pablo Valadares / Câmara dos Deputados
Homenagem aos Povos Indígenas. Dep. Silvia Waiãpi (PL - AP)

Homenagem aos Povos Indígenas. Dep. Silvia Waiãpi (PL - AP)

Silvia Waiãpi: “Uns querem continuar vivendo em 1.500, outros querem a modernidade”

A deputada Silvia Waiãpi (PL-AP) defendeu nesta quarta-feira (5) investimentos nos territórios indígenas e exploração sustentável das terras pelos próprios povos indígenas. “Queremos que nossas terras sejam desenvolvidas economicamente, de forma responsável, respeitando os limites da natureza e das comunidades que nelas vivem”, disse, em sessão solene em homenagem aos povos indígenas, requerida por ela.

“Para tanto, precisamos de apoio técnico e financeiro do governo e também da iniciativa privada”, opinou. “Queremos manter nossas tradições, nossa cultura, mas queremos ter acesso a tecnologias modernas e a renda”, acrescentou. Ela destacou que significativa parte dos indígenas passa por privações e por dificuldades para sobreviver, com falta de acesso aos direitos mais básicos.

A sessão não contou com a presença dos outros deputados indígenas, que ao todo são cinco. “Presto homenagem àqueles que se recusaram a estar aqui, porque eles nos fortaleceram e nos uniram no momento em que quiseram nos segregar”, disse Silvia Waiãpi, ao final da sessão. “Uns querem continuar vivendo em 1.500, outros querem a modernidade”, afirmou ainda.

“Nós, indígenas, não podemos continuar à margem do desenvolvimento social, cultural, educacional e econômico. Pelo contrário, queremos participar ativamente dele, de forma justa e equilibrada”, pediu. Ela lembrou que, segundo o último censo do IBGE, realizado em 2010, vivem no Brasil cerca de 900 mil indígenas. Os povos dividem-se em mais de 300 etnias e falam mais de 270 línguas. Os dados serão atualizados ainda em 2023.

Dia dos Povos Indígenas
Em discurso lido no Plenário, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que foi muito significativa a mudança oficial de nome do tradicional Dia do Índio, comemorado em 19 de abril, para Dia dos Povos Indígenas.  A alteração ocorreu com a aprovação da Lei 14.402/22, oriunda do PL 5.466/19, que revogou o  Decreto-Lei 5.540/43.

Segundo Lira, a mudança foi significativa “porque traduz o reconhecimento pela sociedade da enorme quantidade de etnias, línguas e culturas únicas dos povos indígenas do País”. Conforme o presidente da Câmara, a diversidade contribui para a riqueza do patrimônio cultural da nação e deve ser cada vez mais valorizada, respeitada e protegida.

Lira lembrou que atua em defesa dos direitos desses povos no Congresso a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Povos Indígenas, coordenada pela deputada Célia Xakriabá (Psol-MG), que conta com o apoio de 205 parlamentares. Ele chamou a atenção ainda para a recém-criada Comissão da Amazônia e Povos Originários. “Há 238 proposições em tramitação que tratam de temas ligados à questão indígena”, informou. “A maior homenagem que esta Casa pode fazer aos povos originários é elaborar, propor e aprovar um arcabouço legal que garanta a eles na prática os direitos assegurados na Constituição”, ressaltou.

Pablo Valadares / Câmara dos Deputados
Homenagem aos Povos Indígenas. Secretário da Comunidade Indígena do Noroeste Guajajara, Arão Da Providência Araújo Filho.

Homenagem aos Povos Indígenas. Secretário da Comunidade Indígena do Noroeste Guajajara, Arão Da Providência Araújo Filho.

Arão: “Temos 303 terras indígenas aptas a serem homologadas"

Demarcação
Secretário da Comunidade Indígena do Noroeste (DF) Guajajara, Arão da Providência Araújo Filho cobrou a demarcação de terras indígenas e lembrou que a Constituição de 1988 estabeleceu prazo de cinco anos para o governo demarcar terras indígenas. “Temos 303 terras indígenas aptas a serem homologadas. Já estamos entrando no sétimo ano que o governo brasileiro não demarca uma terra sequer”, disse. “A demarcação das terras indígenas é a principal pauta dos indígenas, junto com a educação e a saúde”, completou.

O deputado Gabriel Mota (Republicanos-RR) listou o arcabouço legal que protege os povos indígenas. Além da Constituição, que reconhece aos povos indígenas o direito às terras que tradicionalmente ocupam, citou a Convenção 169, da OIT, sobre povos indígenas e tribais, a qual reconhece o direito dos povos indígenas à consulta prévia sobre projetos que afetem suas terras, culturas e tradição.

“A proteção dos povos indígenas não é apenas questão de justiça social, mas é essencial para a preservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável do País”, avaliou. Ele defendeu que “não haja invasão de terra indígena em Roraima” e considera fundamental garantir aos povos indígenas “trator, escola boa, posto de saúde, estradas trafegáveis, energia elétrica e internet”.

Influência internacional
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) criticou a influência internacional sobre os povos indígenas. “Chega de usarem os nossos povos para ganharem dinheiro, e já ganharam muito em nome dos nossos povos, chega de tanta influência internacional ditando o que uma menininha Xavante lá no interior do Mato Grosso tem ou não que fazer. Os nossos indígenas pensam, sabem o que querem, sabem onde querem chegar”, disse.

Já o deputado Prof. Paulo Fernando (Republicanos-DF) criticou portaria conjunta recente do Ministério da Saúde e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas  (Funai), que vedou o acesso de religiosos e o uso de imagens com referência a religiões nas aldeias. Para ele, a portaria viola a liberdade religiosa e a autonomia cultural indígena. Ele defendeu a atualização da legislação referente aos povos indígenas e pediu a aprovação, pelo Senado, do PL 1057/07, que pune quem não denunciar a prática de infanticídio indígena. O texto já foi aprovado pela Câmara.

Assistente jurídica do Agro Indígena, Luciene Kujãesage Kayabi defendeu o agronegócio dentro das aldeias indígenas. Segundo ela, muitos povos vivem na miséria total. “São donos da terra, mas não conseguem viver dela”, afirmou. Ela criticou órgãos governamentais e ONGs que, na visão dela, "acham que os povos indígenas conseguirão viver só da floresta".



Fonte: https://www.camara.leg.br/noticias/951116-deputada-pede-desenvolvimento-economico-de-terras-indigenas-em-sessao-solene/
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