O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Marcos Antônio Amaro dos Santos, negou suposta conivência de seu antecessor, general Gonçalves Dias, com os atos golpistas de 8 de janeiro. Na condição de convocado, Amaro prestou depoimento na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (24). A convocação partiu do deputado Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP) com base em imagens do ex-ministro do GSI e de invasores dentro do Palácio do Planalto, mostradas pela rede de TV CNN em abril.
“O sentimento geral era de facilitação. Esse sentimento foi confirmado pelas imagens vazadas do ministro do GSI e de funcionários do órgão caminhando entre os vândalos, abrindo portas e servindo água para pessoas que destruíam o patrimônio público. Essas imagens foram censuradas pelo presidente Lula, em um sinal claro de que a verdade sobre o 8 de janeiro estava sendo escondida do povo”, disse.
As imagens levaram à demissão do general Dias. À frente do GSI desde 4 de maio, general Amaro afirmou que o antecessor foi surpreendido pelos invasores e depois se esforçou em conduzi-los à prisão.
“A meu ver, não houve facilitação. Houve um esforço que não foi suficiente para conter as invasões. Na verdade, as imagens mostram que ele [General G. Dias] estava indicando a escada que conduz do terceiro para o segundo piso, onde os manifestantes estavam contidos para posterior prisão”, explicou o ministro.
Amaro entregou aos deputados o protocolo de ações integradas que a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal elaborou em 6 de janeiro sem convite ao GSI. Segundo ele, não havia informações sobre a natureza e o número de manifestantes, o que gerou baixa avaliação de risco nos prédios dos três poderes. O ministro também negou censura às imagens do Planalto, que já estão disponíveis ao público desde a retirada do sigilo judicial.
O ministro general Amaro também saiu em defesa do ex-chefe do Comando Militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra, criticado pela oposição depois de elogiar a postura do presidente Lula diante dos atos de 8 de janeiro. Em depoimento à CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Dutra afirmou que a concordância do presidente em adiar para a manhã seguinte a prisão dos acampados em frente ao quartel do Exército, em Brasília, evitou “uma noite de sangue”.
Medidas de segurança
Até o fim deste mês, uma sindicância interna vai apontar eventuais irregularidades nas ações do GSI em 8 de janeiro. Amaro avalia que a forte reação da sociedade, do Judiciário (com inquéritos) e do Parlamento (CPMI) à depredação de prédios públicos inibe a repetição de novos atentados. Recentemente, foram retiradas as grades que protegiam o Palácio do Planalto desde janeiro, mas general Amaro quer adotar outras medidas de segurança no prédio, que é tombado pelo patrimônio nacional.
“É a blindagem dos vidros do piso térreo, o que não modifica as características arquitetônicas do palácio, deve ter uma certa facilidade na autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico e terá uma grande efetividade no aumento da segurança do palácio face a esse tipo de manifestação mais agressiva”.
A ampliação no número de câmeras e o reforço nos postos de segurança também estão nos planos do Gabinete de Segurança Institucional. O ministro lembrou que o espelho d’água do Palácio do Planalto só foi construído em 1989 após um motorista invadir o prédio com um ônibus.
Governo x oposição
A audiência também foi marcada por debates acalorados entre governistas e oposição. O deputado Sargento Fahur (PSD-PR) minimizou os atos de 8 de janeiro.
“Terrorismo é bomba. O que tivemos aqui foi vandalismo. E outra: que idiotice é essa de golpe? Para dar golpe, precisava, no mínimo, de parte das Forças Armadas rebeladas; ou, no mínimo, as polícias militares que têm armas; ou, no mínimo, centenas de CACs fortemente armados. Agora, golpe com a senhorinha do zap?”, argumentou.
Já o deputado Reimont (PT-RJ) apontou discurso golpista no governo anterior.
“O dia 8 de janeiro tem antecedentes. Primeiro, ‘vamos fechar o STF com um cabo, um soldado e um jipe’; não aceitaram o resultado das urnas; pediram intervenção militar; quebraram Brasília em 12 de dezembro, no dia da diplomação do Lula; esticaram a corda incentivando o golpe; mantiveram o povo à frente dos quartéis com alimentos, cobertores e fake news”, lembrou o deputado.
Os deputados também discutiram a possível criação da guarda nacional, uma instituição permanente para proteger prédios dos três poderes. O tema divide opiniões e deve ser enviado ao Congresso Nacional em forma de proposta de emenda à Constituição.