O empresário George Washington Sousa, que está preso sob a acusação de ter colocado uma bomba ao lado de um caminhão de transporte de combustível próximo ao Aeroporto JK, em Brasília, em 24 de dezembro do ano passado, negou ter participado do atentado. Em depoimento nesta quinta-feira (22) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os ataques de 8 de janeiro, ele respondeu parcialmente às perguntas de deputados e senadores.
George Washington também negou que seja um terrorista e que tenha escrito uma carta ao então presidente Jair Bolsonaro com teor golpista, cujo texto foi encontrado em seu celular.
Acusado de ter participado também da tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, em Brasília, no dia 12 de dezembro – data da diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva –, ele negou que os dois episódios tenham relação com a invasão das sedes dos três poderes uma semana depois da posse de Lula.
“O meu caso não tem nada a ver com o caso do dia 8, que corresponde a essa CPMI”, garantiu.
Orientado por sua defesa, George Washington não respondeu a questionamentos sobre fonte de renda e sobre sua relação com parlamentares. Sobre a rotina no acampamento instalado no Setor Militar Urbano da capital federal para protestar contra o resultado das eleições, ele apontou para a presença de infiltrados, que teriam sido identificados pelo setor de inteligência das Forças Armadas.
“Uns apareciam. Quando eram descobertos, saíam, apareciam outros. Tinham ônibus de infiltrados. Isso o Exército detectou”, afirmou.
Os parlamentares confrontaram as respostas com a confissão feita por George Washington à polícia quando foi preso. O acusado do atentado no aeroporto afirmou que parte do conteúdo que consta do depoimento à Polícia Civil não teria sido dito por ele. Também disse que foram colocados no depoimento, sem o seu consentimento, os nomes do ex-presidente Bolsonaro e do presidente Lula.
Logo no início do depoimento, o presidente da CPMI, deputado Arthur Oliveira Maia (União-BA), se indignou diante da opção pelo silêncio em parte das respostas.
“Sinceramente, o senhor envergonha esse país, o senhor envergonha a sociedade brasileira, a sua família, o senhor envergonha a todos. E eu espero que a lei brasileira seja muito dura com criaturas como o senhor”, declarou o deputado.
Na primeira parte da sessão da CPI, o diretor do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado da Polícia Civil do DF, Leonardo de Castro, apontou que três dos envolvidos na tentativa de invasão da sede da Polícia Federal em Brasília, também são identificados como participantes da tentativa de explosão de um caminhão perto do Aeroporto de Brasília 12 dias depois. Segundo o delegado, Alan Diego dos Santos e George Washington Sousa, que estão presos, e Welington Macedo, que continua foragido, estão envolvidos nos dois episódios.
A CPMI também ouviu os peritos Renato Carrijo e Valdir Pires Filho, da Polícia Civil do DF, que fizeram exames nas proximidades do aeroporto, no caminhão tanque e no carro de George Washington Sousa. Carrijo informou que foram encontrados explosivos normalmente utilizados em pedreiras e na construção civil. Durante a reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, foram exibidos vídeos sobre o material e os especialistas explicaram que a bomba só não explodiu por erros de montagem.
Oposição
Parlamentares de oposição ressaltaram que não se pode ligar os autores dos episódios de 12 e de 24 de dezembro ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Tudo o que eu vejo, até esse momento, é a ação de lobos solitários, que já estão sendo punidos, graças a Deus. Bandido tem que ficar atrás das grades. Pessoas que colocam a população em risco, crianças, mulheres, a estabilidade de uma cidade, de um País todo, têm que ficar atrás das grades. O que não pode ser feito é a injustiça de associar essa pessoa ao presidente Bolsonaro, por exemplo”, afirmou o deputado Marco Feliciano (PL-SP).
Novos depoimentos
Dois outros depoimentos já foram marcados pela CPMI. Na segunda-feira (26) à tarde, vai ser ouvido o ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do Distrito Federal, Jorge Eduardo Naime. Na terça (27) de manhã, o depoente será Jean Lawand Júnior, ex-subchefe do Estado Maior do Exército, que teve reveladas conversas com o ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid.