Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveu uma vacina que protege grávidas usuárias de cocaína e seus bebês, inclusive durante a amamentação. Experimentos em fase pré-clínica mostraram que o medicamento é eficaz para inibir os efeitos da droga no cérebro durante a gestação e a amamentação, com produção de anticorpos.
A pesquisa foi publicada na revista Molecular Psychiatry, do grupo Nature, de reconhecido respaldo científico. A vacina está patenteada, mas ainda precisa cumprir as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e, no âmbito internacional, das agências reguladoras europeia e americana.
Para o estudo seguir em frente, é preciso também garantir recursos. Em audiência pública da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (28), o professor da UFMG Frederico Duarte Garcia falou como parte da pesquisa foi viabilizada a partir de emenda do deputado Hugo Leal (PSD-RJ) ao Orçamento da União. Neste momento em que o Congresso define recursos orçamentários para 2022, os pesquisadores esperam continuar contando com o apoio dos parlamentares.
“No dia em que eu recebi o aceite da revista, para nós foi uma grande honra chegar a esse ponto. E a ajuda dele (Hugo Leal) foi essencial e a gente conta com a ajuda de outros parlamentares para continuar fazendo essas pesquisas”, observou Garcia.
Pandemia
A pandemia prejudicou o ritmo das pesquisas porque forçou o fechamento de algumas unidades da UFMG, inclusive o centro de pesquisas clínicas. O deputado Hugo Leal, que conduziu a audiência pública, afirmou que deve ser aproveitado este momento de discussão do orçamento da União. Ele é o relator geral do Orçamento, mas explicou que o relator é um subscritor dos interesses coletivos dos deputados e senadores.
“O tempo que foi perdido durante 2020 e 2021 temos que retomar em 2022", disse Hugo Leal. Ele pediu um esforço dos parlamentares junto às seguintes entidades: Anvisa, Ministério da Saúde, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), ligada ao Ministério da Justiça, e o Ministério da Cidadania, para que os estudos sobre a vacina avancem.
Poucos recursos
Segundo o pesquisador Frederico Duarte Garcia, a agência de medicamentos dos Estados Unidos aponta que, para o desenvolvimento pré-clínico, é necessário um investimento médio de US$ 5 milhões, e para o desenvolvimento mais US$ 20 milhões. O professor ressaltou que, no Brasil, os editais do CNPq financiam projetos de até R$ 200 mil, o que não chega a US$ 20 mil.
Frederico Garcia explicou como o desenvolvimento da vacina pode ajudar principalmente jovens mães dependentes químicas.
“Infelizmente, a gente tem o agravante de que boa parte das pessoas que consomem cocaína e crack são jovens, e as mulheres estão em idade reprodutiva, o que faz com que o inebriamento ou a dependência da droga acabe as levando a engravidar sem desejar, muitas vezes, ou, que elas acabem tendo que usar o próprio corpo como meio de obtenção da própria droga", observou.
O uso da cocaína na gravidez está associado a quadros graves na gestante e na formação do feto com repercussões ao longo da vida da criança. Alguns dos problemas para a mãe usuária de cocaína são pré-eclâmpsia grave, aborto espontâneo e parto prematuro com complicações. Os filhos podem ter baixo peso ao nascer, malformações e síndrome de abstinência no recém-nascido.
A audiência pública ocorreu a pedido dos deputados Francisco Jr. (PSD-GO) e Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. (PP-RJ).