Participantes de audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados sobre dermatite atópica relataram situações de bullying que levam a prejuízos na vida social e salientaram que os impactos desse problema de saúde vão além da pele. Campanhas de esclarecimento sobre a doença, maior acesso aos tratamentos e combate ao preconceito são algumas das providências apontadas para melhorar a vida dos pacientes.
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a dermatite atópica é uma doença genética, crônica e não contagiosa. Ela se caracteriza por pele seca e erupções, principalmente nas dobras de braços, joelhos e pescoço, que levam a uma coceira permanente. A doença é mais comum na infância, mas pode se estender à vida adulta.
Na audiência, a médica alergista e imunologista Ariana Yang mostrou que as formas moderadas e graves da doença são responsáveis por até 20% dos casos. As crises aparecem sem aviso e a coceira causa um impacto muito grande na qualidade do sono, segundo a especialista. “A dermatite atópica está associada à maior predisposição a comorbidades tanto alérgicas, quanto ao aumento de risco de infecções", ressaltou Yang.
Ela alerta que a pele é o maior órgão de contato com o meio externo e, portanto, um órgão de proteção. "Quando essa barreira importante do nosso corpo está fragilizada por uma doença inflamatória crônica, esse paciente fica exposto a uma maior frequência de infecções tanto bacterianas, fúngicas e virais”, disse.
Estudantes
A discussão na Câmara girou em torno do impacto da dermatite atópica no meio escolar. Gerente-geral da Associação Crônicos do Dia a Dia (CDD), Bruna Rocha citou isolamento, solidão e danos para a saúde mental, como ansiedade e depressão, entre os efeitos apresentados em estudantes que tem a doença.
“O jovem com dermatite atópica é aquele que vai com roupa de manga comprida quando o termômetro está marcando 34 a 40 graus; é aquela criança que muitas vezes vai ter um baixo rendimento escolar porque não dormiu a noite toda em decorrência da coceira, que é um dos principais sintomas da dermatite; ele é o jovem que falta a inúmeras aulas e, quando vai pra escola, é chamado de ‘perebento’, ou é alvo de brincadeiras jocosas dos seus colegas”, descreveu.
Bruna Rocha enfatizou que, apesar de terem uma doença de pele, os pacientes de dermatite atópica precisam de acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Segundo ela, a taxa de tentativas de suicídio antes dos 18 anos nesse grupo é 35% maior do que a média dos outros jovens.
A deputada Paula Belmonte (Cidadania-DF), que propôs a realização da audiência, demonstrou preocupação com o impacto da doença na formação do indivíduo, principalmente nos anos iniciais na escola, além da falta de conscientização sobre a doença entre crianças, pais e professores.
Convivendo com a dermatite atópica em 26 anos de vida, a professora Suzana Mesquita, que desenvolveu a forma severa da doença, lembrou as dificuldades na vida escolar: do atraso para começar a estudar, porque os pais tinham dúvida se a escola estava preparada para recebe-la às faltas constantes decorrentes de crises agudas e efeitos colaterais dos tratamentos.
“É uma doença que acomete o lado emocional, o lado social, o lado afetivo, o lado educacional. Uma doença em que a gente passa a ser julgado constantemente pela nossa pele porque as pessoas não enxergam o sujeito, elas enxergam a dermatite atópica primeiro e isso é uma porta enorme para o bullying, para o preconceito, isso é uma porta enorme para a reclusão”.