Representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde e virologistas que participaram de audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (15) destacaram a vacinação como principal eixo no enfrentamento da Covid-19, inclusive no que diz respeito à variante ômicron do novo coronavírus. A imunização, ressaltaram, deve ser combinada com outras medidas, como uso de máscara, distanciamento social e higienização das mãos.
A variante ômicron, detectada pela primeira vez na África do Sul, acendeu o alerta entre autoridades de saúde de todo o mundo, em razão de uma possível maior capacidade de transmissão e de risco de reinfecção pela cepa.
O debate foi realizado pela Comissão de Seguridade Social e Família, com a participação da comissão externa destinada a acompanhar o enfrentamento à pandemia no Brasil, a pedido da deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC).
“O que se imagina dessa nova variante com a cobertura vacinal que temos no País, o que precisamos fazer ainda?”, indagou a parlamentar. “Não só nas medidas de cobertura vacinal, mas também na manutenção dos procedimentos e dos cuidados não farmacológicos, como o uso da máscara e o distanciamento, em especial porque estamos entrando nas festividades de Natal e de Réveillon”, acrescentou.
Vacinação
Todos os técnicos presentes na reunião defenderam a vacinação cada vez mais ampla contra a Covid-19. “O Brasil vai entrando, cada vez de maneira mais marcante, em um status invejável por todos os países do mundo, ao atingir os níveis de vacinação que está atingindo. Essa vitória não pode ser perdida”, afirmou o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. “Temos de manter sobretudo a consciência da prevenção, a consciência de que a guerra não acabou.“
De acordo com dados do Ministério da Saúde, 92% dos brasileiros com mais de 18 anos tomaram a primeira dose da vacina contra a Covid; e 85% completaram o ciclo de duas doses ou dose única.
A dose de reforço é a principal recomendação da biomédica e virologista Lorena Chaves para evitar a disseminação da ômicron. “A gente precisa de uma campanha nacional de conscientização para a dose de reforço. Também deve-se disponibilizar vacina para essa campanha, incluindo crianças, tudo isso tentando prevenir os estragos da ômicron”, listou.
O biólogo e pesquisador Anderson Brito, por sua vez, defendeu uma maior testagem da população para o novo coronavírus, com vigilância genômica. “A testagem é essencial. É muito importante que qualquer brasileiro com sintomas tenha acesso a teste”, declarou.
A diretora da Secretaria de Enfrentamento à Covid (Secovid) do Ministério da Saúde, Rosana Leite de Melo, respondeu que a pasta tem trabalhado em campanhas de orientação e de estímulo à vacinação. Além disso, segundo ela, o ministério elaborou um plano de monitoramento contínuo, de forma a realizar o sequenciamento genético do coronavírus em todos os estados brasileiros.
O Ministério da Saúde, continuou Rosana, está ciente de que a pandemia não acabou e foca neste momento nas doses de reforço para as pessoas com mais de 60 anos e na segunda dose para o público mais jovem.
Tipos de imunidade
Ao contrário de outros participantes da audiência, o deputado Osmar Terra (MDB-RS) defendeu a imunidade natural produzida pela infeção pelo novo coronavírus no combate da pandemia. Essa imunidade, segundo o parlamentar, não seria inferior àquela produzida pela vacina.
“Falamos vacina, parece que é uma coisa mágica, que cura tudo, mas não é”, declarou Terra. “Não são vacinas conhecidas inteiramente, lidando com um vírus também mutante.”
Em resposta a Terra, a segunda diretora da Anvisa, Meiruze Sousa Freitas, afirmou que a resposta imunológica natural é menos duradoura que a resposta vacinal.
Anderson Brito observou que a imunidade natural vem com riscos à vida, além do custo de sequelas graves. “No mundo, já foram aplicadas mais de 8,5 bilhões de doses de vacina. Reações adversas graves são raras”, sustentou.
Crianças
Osmar Terra também se disse contrário à vacinação de crianças, pois elas não estariam no grupo de risco, no entendimento dele. Os especialistas presentes ao debate, no entanto, rebateram o argumento.
Meiruze Sousa Freitas explicou que, na maioria dos casos, as crianças tendem a ser acometidas de uma forma mais leve de Covid-19, mas podem se tornar um grupo vulnerável na medida em que a vacinação de outras faixas etárias cresce.
Lorena Chaves acrescentou que crianças, além de ficarem doentes, podem transmitir a Covid-19 para as pessoas com as quais convivem. “Vacinação é um cuidado com eles, é tirar a vulnerabilidade dessa população”, comentou a virologista.
A Anvisa anunciará nesta quinta-feira (16) o resultado da avaliação feita pela agência acerca da indicação ou não da vacina da Pfizer para crianças a partir dos cinco anos de idade.
Monitoramento de viajantes
Outro ponto do debate disse respeito ao monitoramento de viajantes, especialmente quem chega ao Brasil vindo de outros países.
O assessor técnico do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Nereu Henrique Mansano, sugeriu que a detecção de passageiros contaminados ocorra antes do embarque, por não acreditar em um monitoramento depois que um turista, por exemplo, desembarca no País. “É preciso efetivar a exigência do certificado de vacinação”, defendeu.
Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), é necessário exigir o engajamento das empresas aéreas.
A representante do Ministério da Saúde, Rosana Leite de Melo, informou que o governo respeitará as ordens judiciais acerca do monitoramento de viajantes.