Durante a sessão do Plenário nesta segunda-feira, deputados de estados da Amazônia se manifestaram sobre o desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. Os parlamentares cobraram ações do governo federal para combater a violência na região e também fizeram críticas sobre a resposta do governo ao caso. Deputados da oposição chegaram a culpar a gestão atual por ter retirado recursos da Funai e de outros órgãos de fiscalização.
A deputada Vivi Reis (Psol-PA) propôs a criação de uma comissão externa da Câmara dos Deputados para acompanhar as investigações. "Eu tenho conversado com a esposa do Bruno e ela precisa de respostas concretas e verdadeiras sobre o que aconteceu", afirmou. Vivi Reis anunciou que os servidores da Funai estarão em estado de greve nesta terça-feira (14) porque querem que o presidente da fundação se retrate sobre o pronunciamento a respeito do caso. "A Amazônia não pode ser uma terra sem lei, onde as pessoas simplesmente desaparecem", indignou-se.
A deputado Joenia Wapichana (Rede-RR) também criticou a instituição. "É preciso que a Funai reveja o seu discurso, porque o Bruno Pereira estava cumprindo um trabalho que deveria ser feito pela Funai também", declarou. Ela lembrou que Dom Phillips e Bruno Pereira foram ameaçados de morte porque investigavam denúncias de invasões e exploração ilegal dos recursos naturais na terra indígena do Vale do Javari. "A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), pela ausência de uma política indigenista que respeite o que a Constituição determina, foi quem contratou o indigenista Bruno, que era um servidor licenciado da Funai", explicou.
Narcotráfico
O deputado Marcelo Ramos (PSD-AM) alertou para a ação de narcotraficantes e do crime organizado na região de Atalaia do Norte e da tríplice fronteira com Colômbia e Peru. Ele acusou o governo federal de estimular ações violentas de grileiros e garimpeiros. "Que este episódio sirva para que o Brasil enxergue os indígenas, ribeirinhos e populações tradicionais completamente desamparadas da presença do Estado."
O deputado Sidney Leite (PSD-AM) também cobrou do Ministério da Justiça maior controle sobre as fronteiras da Amazônia. "A rota Solimões-Rio Negro é uma das maiores do narcotráfico brasileiro, e 75% da violência no Brasil é oriunda do narcotráfico. É hora de o Brasil olhar efetivamente para a Amazônia, não só com o discurso fácil de que precisamos proteger a floresta, mas também com tecnologia, com infraestrutura, comunicação e a possibilidade de melhoria de vida da população."
Desencontro
O deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP) reclamou da forma como o governo federal tem lidado com a crise e da informação, depois desmentida, de que os corpos dos desaparecidos haviam sido encontrados. "A maneira como isso está sendo conduzido é tão cruel quanto o que foi feito. O embaixador falou uma coisa, a polícia falou outra. Essa confusão é metodologia de um governo que não quer ver terra indígena demarcada, que não quer ver participação da sociedade civil, que demitiu o indigenista", afirmou. "Queremos investigação e punição dos envolvidos."
O deputado Leo de Brito (PT-AC) lembrou que o assassinato de Chico Mendes, em seu estado, fez o mundo começar a olhar para Amazônia. Ele acusou o governo de abandonar a região. "Existe uma verdadeira política de desmonte. As fronteiras brasileiras estão entregues à própria sorte. Os órgãos ambientais e de fiscalização estão sendo sucateados", lamentou.
Segurança
O deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) reconheceu as dificuldades das forças de segurança para patrulhar a região da fronteira da Amazônia, especialmente por causa da extensão da área. "Se colocar todos os exércitos da América Latina, ainda não tem condições de atender aquela fronteira. Isso tem que ser levado em consideração. Não basta querer culpar o governo. Nasci na floresta, próximo de onde isso aconteceu. Ali é o mundo. Tenho certeza de que as forças de segurança fazem o que podem", defendeu.
Apesar de elogiar a presença das Forças Armadas na região, o deputado Silas Câmara (Republicanos-AM) pediu uma atuação mais efetiva da Polícia Federal. "Conheço o sofrimento e a logística da região, sei que tudo é muito complexo. Parece um drama dizer isto, mas a forma como os dois se locomoveram naquela região foi, no mínimo, imprudente. Porém, deve-se adotar, de fato, uma estratégia na região para a segurança das pessoas que lá se locomovem", cobrou.