03/02/2020 às 10h58min - Atualizada em 03/02/2020 às 10h58min

Idoso constrói o próprio caixão com 1,4 mil canudinhos de jornal

Seu Anísio Lords, 92 anos, mora no distrito de Itapina e levou cinco dias para construir o caixão sob medida

Da Redação
Anísio Lords nasceu e passou seus 92 anos em Itapina, distrito de Colatina, Noroeste do Estado. O distrito foi um dos locais mais ricos e movimentados da cidade no século XX, mas que hoje tornou-se um lugar bem tranquilo onde Seu Anísio escolheu “morrer”. O caixão? Ele mesmo já construiu. Há uns cinco anos, ele conta, estava rezando, quando essa vontade veio a sua mente de uma forma muito forte, como um chamado. Ele não pensou duas vezes e tomou a decisão de construir o próprio caixão. Tudo foi muito rápido, gastou apenas cinco dias pra construir o caixão se utilizando do material com que ele tinha mais prática, os canudinhos de jornal, técnica que Seu Anísio aprendeu e aperfeiçoou em seus trabalhos com artes na igreja católica de Itapina.

“Eu fiz todos os tubinhos com o jornal. Depois fui emendando e, por fim, fiz o forro com uma espécie de espuma”, lembra. Foram gastos cerca de 1.400 tubinhos de jornal, colados com cola branca um por um, manualmente. Ele usou ainda um verniz para proteger sua obra e dar acabamento a ela. Vale ressaltar que o caixão foi feito sob medida - Seu Anísio mede 1,50m e o caixão tem 1,60m “porque a gente espicha depois que morre”, pondera ele, todo precavido e bem informado.



O caixão fica pendurado na parede em um quarto onde ele é o grande destaque. Apesar da porta ficar trancada, Seu Anísio não tem problema algum em mostrar o caixão para quem chega, pelo contrário, ele faz questão de contar todos os detalhes da ideia, da maneira mais tranquila que você possa imaginar, mostrando que não tem medo nenhum da morte.

TUDO PLANEJADO
A organização não para por aí. Não é só o caixão que já está pronto, todo o ritual de sepultamento está preparado e, segundo Seu Anísio, deve durar uns 30 minutos. “Eu também gravei com minha própria voz os hinos todos que eu vou ‘cantar’ quando eu estiver no caixão. Tem o CD aí pronto!”, diz.

São duas músicas religiosas com que ele se identifica. Elas foram escolhidas por ele, que as canta desde os 15 anos no coral da igreja. A roupa que ele vai vestir no dia também já está separada, mas essa ele preferiu não mostrar para a reportagem. Até um ensaio do dia da morte já aconteceu.

“Inclusive, já chamei os vizinhos e fui com o caderno na frente cantando e eles carregando o caixão como se eu estivesse ali dentro”, conta ele, com a tranquilidade de quem prepara uma festa de aniversário.

Por Itapina ser pequena, todo mundo conhece o “senhorzinho do caixão” e respeita toda essa vontade dele, apesar dele garantir que alguns ficaram com medo de ensaiar o velório. A amiga e vizinha Tânia Becalli diz que não teria coragem de fazer o que ele fez, mas garante que todo mundo se acostumou com essa história por lá. “O negócio dele é não dar trabalho para quem ficar aqui depois que ele morrer.

Por isso, ele está deixando tudo pronto.” Seu Anísio mora sozinho, não tem filhos, mas tem parentes ali mesmo em Itapina que o visitam de vez em quando. Como ele mora a poucos metros do cemitério do distrito, fez questão também de já deixar sua sepultura pronta para o que ele chama de “o grande dia”. Independente disso, ele não tem preferência de data para que isso aconteça .

“A única coisa que tá faltando é Deus dizer assim: ‘vou te levar!’ Mas aí é um dia que a gente não sabe! Se eu soubesse, sabe o que eu faria? Eu sairia daqui, iria até onde a minha sepultura está pronta, e deitaria e falaria: “Senhor, me leva junto contigo.”


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